sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O bom abismo do ser



O meu silêncio é o meu diálogo com Deus;
Nas minhas horas, todas oram; Todas pregam o tempo;
Embora passe, como o azul do céu em meio as nuvens brancas, o tempo será.

Enquanto houver silêncio, haverá um só Deus;
E enquanto houver vozes falando, vezes faltando, ah solitude, haverão deuses.
Deuses controversos, mudos e mutáveis, jugos e julgáveis, míseros e miseráveis.

O todo do ser clama por aquietar-se; queixa a deixa do não ser;
Humilha-se na noite escura de uma oração;
Canção que envolve, comove e move o coração de um Deus que quer comunhão.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"Javé, o homem e o rio"

São lugares bem profundos, quais não atrevo navegar,
São nuances, são assombros, nem de longe posso olhar;
Tu, já és formado, do leito ao velho mar,
Eu, na minha construção, sempre a me aprumar;
Tu, já tens rumo certo, eu quase que por certo,
Como tateando, procuro o desembocar.
Tuas correntes conduzem para teu destino,
As minhas, não sei se por capricho,
Quase sempre, me tiram o riso.

Mas no meu rancho de fé, tenho um fisgo de paixão,
Que moveu o Numinoso, como força do destino,
A enviar-me com amor, uma parte dEste Trino.
Sendo ponte neste abismo, esperança e certeza,
Para ti, sei lhe parece, somente pura beleza,
Pois trago no peito, a cruz que ponte na verdade é,
Esse madeiro doloroso, que também conduz a fé.

Se já não sou mais o mesmo, nem tu és.[1]
Ontem tuas águas já se foram,
As minhas circundam igarapés.
Quanta saudade sobre este que almeja repouso,
Quanto descanso desejo ter, no rio que desce do trono.
Então, lanço-me na eira e fico a espreitar,
Quem sabe, quem pense, na ânsia um dia desvendar,
Mistério esse, assombroso feito fogo no pavio,
Poema entre Javé, o homem e o rio.


[1] Conceito extraído do fragmento literário do filósofo Heráclito de Éfeso (540aC – 470 aC)

"Javé vê a fé"

A - Já viu Javé?
B - Já vi Javé?
B - Não se vê Javé!
A - Javé não vê?
B - Javé vê!
A - Ah, Javé vê!
A - Então fé em Javé!
B - Fé em Javé!
A – Javé vende a fé?
B – Javé não vende a fé!
A – Javé não vende a fé?
B - Não se vende a fé!
B – Mas Javé vê a fé!
A - Haja fé!
B – Ah Javé...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Crônicas de Iara

Enquanto isso ...
O clube dos gatos está reunido para fazer um atentado contra os pássaros. Os gatos gostam de atacar os pássaros, muitas vezes não conseguem alimentos e aí quem paga são os pássaros. Mas para isso, os pássaros tem asas, para voar e fugir do perigo!
Eles planejam um ataque surpresa bem na hora da alimentação da manhã!

CENA ou ILUSTRAÇÃO: Os gatos reunidos numa churrasqueira abandonada na mata, com o chefe da turma no centro e todos ao redor!
Chefe do clube: - Vamos atacar dessa vez pelo terreno debaixo da casa! Os pássaros vão ser surpreendidos!
Turma: - É isso aí! Vamos lá! (com caras de famintos)
Mal sabem eles que havia ali um espião na reunião. Ao alto da árvore um membro da polícia secreta dos pássaros, um pequeno Bico-de-lacre ouve tudo e voa avisar a guarda nacional. Chega ofegante, fala ao comandante Bem-te-vi e conta o que ouviu! No mesmo instante é soado um alarme, avisando os soldados a se reunirem imediatamente no quartel general da guarda! (os Bem-te-vis tem aspecto militar)
Comandante: Vamos voar aos coqueiros e carregar! O plano dos gatos é atacar o coral pelo terreno de baixo! Carreguem e esperem na arvore do Pica-pau!
“Pica-pau? Ah, desculpem o Pica-pau ainda não entrou na estória, mas daqui a pouco ele entra”!

CENA ou ILUSTRAÇÃO: Bem-te-vis voam ao coqueiro e carregam e se dirigem para a arvore do Pica-pau!

A árvore é um belo esconderijo, pois é cheia de folhas!
Os gatos estão pouco a pouco ganhando terreno, rastejando no chão e subindo o barranco do terreno.
Os guardas estão apostos e aguardando, quando de repente o comandante dá as ordens:
Comandante: Voem e soltem os coquinhos!
Então acontece uma grande revoada de Bem-te-vis e sem esperar os gatos são surpreendidos pelos coquinhos nas cabeças! Toc, toc, toc, esse é o som dos coquinhos caindo nas cabeças da maldosa turma dos gatos! Eles saem correndo e gritando: - Ai, ai, ai, ai, ai !!! Minha cabeça!!! Minhas costas!!! Meu rabo!!! Hrrrrrrrrrrrrrrrrr!!! Miauuuuuuuuuuuu!!! Grrrrrrrrrrrrrrr!!! E saem a turma dos gatos mais uma vez com seus planos frustrados!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"Das lidas e campereadas"


Gemendo e em pranto fui de manso saindo,
De onde queria ficar, ou jamais ter sido porteira adentro lançado,
Laçado pelo destino, rendido ao desconhecido,
Feito gente, feito o que crê, adorno do Celeste.

Como estrela cadente que se lança céu abaixo, assim sou eu,
Falível ser, guerreando contra as ameaças do não-ser[1],
Sucateado nas lidas, cheirando ainda, a aurora da vida,
Vezes querida, pedra que se lapida,
Outrora temida, ferro que trepida.

Prostrado, sou apenas cisco que de ti caiu,
Espelho sujo, reflexo incerto, convexo procurando conserto,
Consertar-me, ah nem sei de que, nem sei para que,
Pois nas horas de pranto, nem sequer um canto,
Arrisco tecer, pois pra mim lucro é o morrer.


Sim! E estar junto ao Eterno,
Sem perder tempo, sem perder um sequer alento,
Afago em criança, beijo apaixonado na morena,


Pro fim, avisto a velha Estância, que um dia deixei, Pátria minha.
Então direi: - Levantai oh porteiras da minh’alma,
Para que entre o laçador que me deu vitória,
Cristo-Javé, Sopro impetuoso, Grande Rei da Glória.





[1]Conceito extraído do livro de Paul Tillich “A dinâmica da fé”. (Editora Sinodal)